O Omega-3 Index, que é uma medida da quantidade de EPA e DHA no sangue, é um importante fator de risco para, dentre outros, infartos do miocárdio fatais. Mas com autoridades ou organizações de saúde como a American Heart Association (AHA) recomendando apenas 1-2 refeições de peixe por semana, é provável que a maioria das pessoas não receba a quantidade de ômega-3 necessária para proteger o coração.

Mesmo as Diretrizes Dietéticas para Americanos 2015-2020 e o conselho da Academia Americana de Nutrição e Dietética ficam um pouco aquém em suas recomendações de ômega-3 (EPA e DHA), ou seja, aproximadamente 250 mg e 500 mg diárias, respectivamente.

Novos dados que podem ajudar a trazer mudanças

Um estudo publicado em Prostaglandins, Leucotrienes, and Essential Fatty Acids
mostra que as pessoas provavelmente precisam comer mais animais marinhos e/ou tomar um suplemento de ômega-3 para atingir um índice cardioprotetor de 8% ou mais.

De acordo com a pesquisadora principal, dra. Kristina Harris Jackson, o objetivo do estudo foi responder à pergunta: “Qual combinação de ingestão de animais marinhos (não fritos) e de suplemento de ômega-3 estaria associada a um Omega-3 Index cardioprotetor (de 8% ou mais)?”

Em 2018, a AHA atualizou suas recomendações de 2002 sobre o consumo de peixes e frutos do mar de “… uma variedade de peixes (de preferência oleosos) pelo menos duas vezes por semana” para “… 1 a 2 refeições de frutos do mar por semana”.

“Esse aparente rebaixamento na recomendação (ou seja, a remoção de ‘preferencialmente oleoso’ e ‘pelo menos’) foi feito apesar da evidência de que consumir peixes com mais frequência (como várias vezes na semana) pode conferir cardioproteção ainda maior”, apontaram a dra. Jackson e seus colegas em seu último artigo científico.

VÍDEO: dra. Kristina Jackson e dr. Bill Harris discutem esse último estudo durante uma transmissão ao vivo no Facebook

O dr. Lewis Kuller, que acompanhou a publicação das novas diretrizes da AHA, questionou através de um comentário online se as novas recomendações de ingestão de peixes produziriam, de fato, níveis cardioprotetores de ômega-3 no sangue. Ele argumentou que as recomendações deveriam ter como base o alcance de um nível sanguíneo específico.

Para o estudo, a dra. Jackson e sua equipe avaliaram os níveis sanguíneos de ômega-3 EPA e DHA de quase 3.500 pessoas, juntamente com perguntas sobre a ingestão de peixes e suplementos.

Indivíduos que relataram não comer peixe e não tomar suplementos de ômega-3 apresentaram um Omega-3 Index médio de cerca de 4,1%, o que reflete a média para a maioria dos americanos, e que é considerado um índice “deficiente”.

No outro extremo, a média do Omega-3 Index das pessoas que relataram tomar um suplemento e comer três refeições de peixe por semana foi de 8,1%, que é o nível definido na pesquisa como “cardioprotetor”.

Assim, a dra. Jackson e seus colegas acreditam que um Omega-3 Index de 8% é mais provável de ser encontrado em pessoas que comem pelo menos três refeições de peixe “não frito” por semana e tomam um suplemento de ômega-3 (EPA/DHA).

“Atualmente, a AHA recomenda umas duas refeições de peixe por semana e não recomenda a suplementação. À luz de nossas descobertas, é improvável que este regime produza um índice cardioprotetor de ômega-3 de 8%”, explicou a dra. Jackson. “Provavelmente, recomendações dietéticas que visam atingir um nível sanguíneo alvo seriam mais eficazes na redução do risco de doenças cardíacas.”

VÍDEO: dr. Bill Harris afirma sobre a importância de ter como alvo um nível saudável de ômega-3

Omega-3 Index pode superar o colesterol como fator de risco para doenças cardíacas

No passado, estudos sobre doenças cardíacas, como o famoso estudo epidemiológico The Framingham Study, concluíram que o tabagismo, pressão alta e colesterol alto eram fatores de risco. Desde que todos esses são fatores modificáveis, foram criadas recomendações para a cessação do tabagismo e a redução do colesterol e da pressão arterial.

Por outro lado, o Physicians Health Study, um estudo que recrutou um grande grupo de médicos nos EUA na década de 1980 e continuou a acompanhar esses profissionais por várias décadas, descobriu que os níveis de ômega-3 são um preditor melhor de doenças cardíacas do que o colesterol total, colesterol LDL, colesterol HDL e proteína-C reativa (PCR). No entanto, este achado não foi absorvido entre as instituições de saúde. O foco se limitou nas lipoproteínas, como o LDL e os triglicerídeos.

Vários anos depois, em 2017, o dr. Harris realizou uma análise de um agrupamento de 10 estudos de coorte, publicada em Atherosclerosis, que concluiu que um Omega-3 Index de 8% estava relacionado a uma redução de 35% no risco de morte cardiovascular. Enquanto isso, pesquisas adicionais mostravam que níveis sanguíneos mais altos de ômega-3 estão beneficamente relacionados a outras condições de saúde relacionadas à idade, como função cognitiva e longevidade.

Em 2018, o ômega-3 apareceu no The Framingham Heart Study, um estudo de acompanhamento realizado nos filhos daqueles que participaram no famoso estudo epidemiológico iniciado em 1948 (Framingham Study). De acordo com o dr. Bill Harris, um dos maiores especialistas em ômega-3 do mundo, a obtenção de amostras de sangue dos descendentes dos participantes do estudo original foi um ponto de virada crítico para o papel do Omega-3 Index nas doenças cardíacas.

“Quando obtivemos amostras de sangue dos descendentes do Framingham Study, medimos seus níveis de ômega-3 e descobrimos que o Omega-3 Index se mostrou como um forte preditor de risco de morte por qualquer causa. Além disso, se mostrou como um fator de risco para doenças cardiovasculares, o que significa que as pessoas que tinham os níveis mais altos de ômega-3 apresentavam um menor risco de doenças cardíacas e de morte dentro dessa janela de nosso estudo”, explicou o dr. Harris.

“Também fizemos a mesma pergunta sobre o colesterol no sangue porque medimos os níveis de colesterol ao mesmo tempo em que medimos os de ômega-3. Descobrimos que o nível de colesterol não predizia risco de doença cardiovascular ou morte por qualquer causa”, acrescentou o dr. Harris. “Essa foi realmente a primeira vez que provamos que o nível de ômega-3 sanguíneo é mais significativo como um preditor de resultados cardíacos do que o colesterol, uma hipótese minha há 15 anos, mas que até então nunca pude testar.”

Para o futuro…

Lembre-se sempre de que o Omega-3 Index é um indicador muito pessoal do seu status de ômega-3. E embora os dados sugiram que a maioria das pessoas, em média, precisaria de 3 refeições de peixe e/ou um suplemento de ômega-3 para atingir nível de 8%, muitos fatores, como idade, sexo, peso, dieta, genética, tabagismo, medicamentos e condições médicas, podem influenciar a resposta do seu corpo ao EPA e DHA.

A única maneira de saber o seu status de ômega-3 é testando. Dependendo do resultado, digamos, se vir abaixo de 8%, modifique sua dieta para obter mais ômega-3. Após a mudança, teste novamente em 4-6 meses para ver o progresso que você fez.